O Tiro de Letra surge, ainda nos inícios da OIA Editora, com o intuito de escancarar a descentralização da prosa contemporânea brasileira. Sim, não se trata de um movimento em busca de descentralizar algo que já se encontra, a bem da verdade, bastante descentralizado. Há produções em prosa por toda parte do país, para além das localidades tidas por eixo, nessa ilusória narrativa acerca da terra prometida para quem sobrevive de arte e cultura. Então é exatamente este o trabalho, não apenas aqui, da OIA Editora: escancarar o óbvio. E a obviedade é a seguinte: estamos sim em pleno desenvolvimento de uma cena contemporânea forte, enraizada em brasilidades múltiplas, traduzindo o mundo em volta a partir das escrevivências trazidas por todos os rincões do país. Claro, não podemos dizer aqui está a identidade brasileira encarnada em papel e tinta. E não o podemos simplesmente por acreditar na inexistência de uma identidade brasileira, ou de uma única literatura nacional. A identidade brasileira é múltipla, multifocal, caleidoscópica. Sendo assim, também podemos falar de uma literatura nacional fragmentária, não fragmentada, em mosaico. Neste caso, para contemplarmos um mosaico necessitamos de afastamento, mas para compreendê-lo é necessário compreender as partes miúdas, percebendo-as harmônicas, ainda que assimétricas entre si. Em suma, para além de uma coletânea, o Tiro de Letra é um autêntico mosaico da literatura contemporânea, em prosa, realizada no Brasil. É impossível permanecer alheio às brasilidades aqui apresentadas. "Não acredito em estilo de um autor ou autora, mas em sua pulsação narrativa (Raimundo Carrero)". Poderia dizer então, não bem-vindos e bem-vindas, tendo em vista de tratar-se de um epílogo, mas espero terem se deixado fascinar por uma antologia de pulsos, fortes e bravos pulsos, de uma geração de escritoras e escritores em plena elaboração daquilo que um dia, possa ser chamada de cena literária do primeiro quarto do século XXI.