Escute a playlist do livro RETALHOS VULCABRÁS:
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Agrada-me em especial na escrita do Sérgio uma elegância de expressão, resultante de um amor pela leitura, pela literatura, mas que não incorre na literatice, numa parede de erudição ou numa expressão por vezes empolada, pedindo aos leitores que reconheçam a bagagem de leituras do autor. Antes pelo contrário. Das tantas leituras vêm a percepção de que se deve oferecer a um leitor a alegria da descoberta, o mistério da experiência de aqui estarmos, um convite e não uma palestra, uma pergunta e não uma resposta.
Fortalece a beleza dos contos deste livro ainda o trânsito forte do autor com a poesia. Há anos penso que mesmo que não venham a ser poetas (não é o caso do Sérgio, cuja lírica é excelente), os prosadores poderiam nutrir mais suas escritas com a leitura de versos. Seja pelo dinamismo, seja pela agudeza, seja para reencontrar o poder das palavras de conjurar um mundo renovado a cada linha. Não são poucos os momentos nas narrativas de Retalhos vulcabrás (e não me refiro apenas aos textos poéticos e minicontos poéticos da obra) em que temos a nítida impressão de estarmos diante do encantamento e da concentração que costumamos obter nos poemas. E assim se nos amplia, creio que diretamente por isso, a sensorialidade dessas histórias, essa impressão duradoura que muitos contos nos deixam de termos habitado seus espaços, um antigo sebo, uma casa de campo, um salão de beleza.
Matéria e forma. Os dois materiais de construção de qualquer escrita, íntegra ou feita retalhos, estão aqui amalgamadas em uma só experiência recompensadora de leitura.
Creio que já é hora de recomeçar pelo bilhete da abertura.
 
Pedro Gonzaga
Professor, escritor, poeta